Será mesmo essa a data em que marca o descobrimento do nosso País? Pelo menos aprendi desde pequeno que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500. Mas a historiografia nos faz viajar no tempo, vejamos:
Um navegante espanhol Alonso de Hojeda, acompanhado do cartógrafo Juan de la Cosa e de Américo Vespúcio partiu da Espanha para continuar os descobrimentos de Colombo que por sua vez é tido como o Descobridor da América. Segundo Vespúcio, a expedição tinha alcançado terras a 5 graus de latitude sul, chegando, portanto, no atual estado do Rio Grande do Norte. Mas o próprio Alonso em um depoimento dado no ano de 1513 afirmou ter alcançado 4,5 graus de latitude norte. Assim sendo, estaria longe do litoral brasileiro. Conclusão: não dá pra afirmar nada.
Outro espanhol, Vicente Yáñez Pinzón chegou, com certeza, um pouquinho antes de Cabral em 26 de janeiro de 1500. Pinzón alcançou o atual cabo de Santo Agostinho em Pernambuco e navegou para o norte até o “mar-dulce”, o rio Amazonas. Depois contornou a costa até o cabo Orange e o rio Oiapoque.
Sabe-se também que mais um espanhol Diogo de Lepe realizou quase o mesmo itinerário que Pinzón, porém alguns historiadores desconfiam se ele realmente avistou a costa brasileira. Resumindo, Pinzón chegou primeiro, mas Cabral ficou com a fama. Outro detalhe é que, quando os portugueses chegaram à Ilha de Vera Cruz por estas bandas já habitavam os aborígenes que bruscamente foram quase que totalmente dizimados por bandeirantes a mando da coroa.
E tem mais... A arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon, afirma em suas pesquisas que há 30 mil anos o homem pré-histórico habitou no Brasil mais precisamente no atual sul do Piauí. Não seria o 22 de abril o dia em que marca a chegada de Cabral no Brasil? Deixando de lado esses questionamentos sobre quem realmente descobriu o Brasil, o importante é que ainda hoje, a data de 22 de abril é marcada oficialmente como o dia em que a Coroa Portuguesa anunciou o descobrimento das terras brasileiras.
Durante muito tempo, esse evento de dimensões históricas foi interpretado como o resultado de uma aventura realizada por corajosos homens do mar que se lançaram ao desconhecido e encontraram uma nova terra. Contudo, apesar de empolgante, existem outras questões por trás dessa versão da história que marcou o ano de 1500. Mesmo antes de chegar ao Brasil, a Coroa Portuguesa estava inserida em uma acirrada disputa econômica onde os estados nacionais europeus disputavam a expansão de suas atividades mercantis. Dessa forma, cada avanço tecnológico, terra conquistada ou rota descoberta, se tornava um precioso “segredo de Estado”. Antes de sair anunciando uma conquista aos quatro ventos, os governantes daquela época avaliavam minuciosamente os interesses e circunstâncias que envolviam esse tipo de exposição. Uma das primeiras pistas que nos indicam esse tipo de planejamento envolvendo o descobrimento do Brasil se deu quando Portugal exigiu a anulação da Bula Inter Coetera e a assinatura do Tratado de Tordesilhas. Afinal de contas, por que os portugueses repentinamente chegaram à conclusão de que uma nova divisão das terras coloniais deveria ser realiza? De fato, essa é uma das muitas outras questões que fazem a versão romântica do descobrimento cair por terra.
Quando chegamos em 1500, o rei português Dom Manuel I autorizou que o navegante Pedro Álvares Cabral organizasse uma esquadra que, segundo consta, deveria aportar na Índia. Para tal propósito foi designada o uso de oito naus, três caravelas, um navio de mantimentos e uma caravela mercante. Além disso, foram convocados aproximadamente 1500 homens, incluindo capitães, tripulantes, soldados e autoridades religiosas.
Entre esses vários participantes da viagem marítima estava o cosmógrafo Duarte Pacheco da Costa, que, segundo aponta alguns historiadores, tinha participado de uma expedição secreta que já havia chegado ao Brasil no ano de 1498. Além disso, como escrevi anteriormente um ano após essa sigilosa viagem, outros indícios apontam que os navegadores Américo Vespúcio e Vicente Pinzón também fizeram uma breve visita ao Brasil. Mais uma vez, fica difícil acreditar que os portugueses não sabiam o que estavam fazendo.
Para celebrar a partida de Pedro Álvares Cabral e seus experientes auxiliares para essa viagem ao Oriente, o rei organizou uma enorme festa de comemoração que contou com a presença de espiões de outras nações mercantis da Europa. Dessa forma, nada poderia levar a crer que os dirigentes portugueses tinham outro plano, senão, circunavegar a costa africana e – assim como Vasco da Gama – realizar um novo contato comercial com os indianos. Contudo, mesmo estando muito bem amparada, a esquadra de Cabral “repentinamente” seguiu uma rota marítima completamente inesperada. As embarcações tomaram distância da costa africana e realizaram uma passagem pela ilha atlântica de Cabo Verde. Depois disso, seguiram uma viagem tranqüila que percorreu 3600 quilômetros a oeste. Passados exatos trinta dias da passagem por Cabo Verde, os navegantes portugueses avistaram o famoso Monte Pascoal.
Chegando ao território brasileiro, inicialmente chamado de “Vera Cruz”, o escrivão oficial, Pero Vaz de Caminha se pôs a tecer um relato sobre as terras, mas sem citar nenhum tipo de surpresa por parte de seus companheiros. Depois do reconhecimento das terras, Pedro Álvares Cabral não fez questão de contar pessoalmente sobre a presença de “novas terras” a oeste. Ao invés disso, partiu para a Índia e mandou o navegante Gaspar Lemos oficializar a descoberta levando a carta de Pero Vaz ao rei.
Apesar de tantas evidências justificarem a ação premeditada dos portugueses, não podemos deixar de salientar que o enfrentamento dos mares era uma tarefa de grande peso. As más condições de higiene, a falta de água e alimentos tornava a viagem um admirável desafio. Além disso, só depois da oficialização feita em 1500 é que se vivenciaram os tantos outros episódios que, ao longo dos séculos, explica a peculiar formação da nação brasileira.
22 de Abril - Dia do Descobrimento do Brasil.
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